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Foto do escritorAline Matheus

Rir é o melhor remédio pra aprender matemática?

Atualizado: 6 de mai.

Dizem que rir é o melhor remédio. E quem entende do assunto confirma que isso não é só um ditado popular... É bioquímica! Mas podemos nos perguntar: rir é o melhor remédio para quê? No website dos Doutores da Alegria, que fazem do riso uma verdadeira terapia de saúde, lemos que:

"O riso aumenta os níveis de dopamina, substância ligada ao prazer e o responsável pela alegria. Ela age no cérebro e nos faz sentir prazer, diminuindo os níveis de estresse, e melhora a capacidade do corpo de combater infecções. E tem mais: dar uma gargalhada pode reduzir a sensação de dor. A endorfina liberada no corpo cria um estado leve de euforia e tem ação analgésica, amenizando a sensação de dor."

E eu me pergunto: rir também pode ser "um bom remédio para aprender"? A pergunta me ocorre porque, afinal, de forma empírica, muitos professores se valem do humor como estratégia. As piadas, o jeito divertido de alguns professores... são fatores que cativam a turma.

Preciso confessar: eu nunca fui essa professora. Tímida, quando tento uma piada, acabo me atrapalhando... Por exemplo, um dia, resolvi dizer que tinha uma ótima piada sobre o número Pi, e soltei: "qual é o bicho que tem mais de três e menos de quatro olhos?" Todo mundo riu, mas foi porque, involuntariamente, eu entreguei a resposta - piolho - antes da piada, quando disse que era uma piada sobre o Pi! Podia ter ficado uma situação constrangedora, mas não ficou. Foi muito engraçado, de um jeito diferente do planejado... Os alunos, muito queridos, acharam graça do meu jeito atrapalhado, riram comigo, porque havia carinho envolvido. Isso me evoca o poeminha do Oswald de Andrade:

Mas volto à questão: rir pode favorecer a aprendizagem? Ou seria "apenas" um estilo de gerir a sala de aula? (Entre aspas, porque isso não me parece pouca coisa.)

Não tenho a pretensão de dar uma resposta inequívoca à questão. Mas queria compartilhar algumas reflexões, na expectativa de trocar ideias com os interessados. A primeira reflexão tem a ver com o seguinte: causou-me forte impressão a leitura (ainda em andamento) do famoso livro "O erro de Descartes", do célebre neurocientista Antonio Damásio. O argumento central do livro, pelo que entendi até agora, é que os sentimentos e as emoções, longe de se contraporem à razão, desempenham um papel muito importante no desenvolvimento da racionalidade. Diz ele:


"É provável que as estratégias da razão humana não se tenham desenvolvido, quer em termos evolutivos, quer em termos de cada indivíduo particular, sem a força orientadora dos mecanismos de regulação biológica, dos quais a emoção e o sentimento são expressões notáveis. [...]
No que têm de melhor, os sentimentos encaminham-nos na direção correta, levam-nos para o lugar apropriado do espaço de tomada de decisão onde podemos tirar partido dos instrumentos da lógica."

Bom, e o riso com isso? Na sua palestra do TED Talks, a neurocientista Sophie Scott nos conta coisas interessantíssimas sobre o riso. Uma delas é que há o riso involuntário (aquela gargalhada espontânea, que te faz perder o ar) e há o riso voluntário, social, que usamos como forma de nos comunicar. O primeiro é mais contagiante e fisicamente mais marcante. Mas o segundo é uma ferramenta poderosa para manejar o estresse associado a muitas situações, regulando coletivamente as emoções de um grupo. Além disso, ao escutar o riso "social", isso estimula áreas dos nosso cérebro relacionados à racionalização: queremos entender do que as outras pessoas riem.

Então, meu palpite é que rir juntos, de fatos relacionados à dinâmica da sala de aula, pode ajudar a regular as emoções e, assim, de forma indireta, mas poderosa, gerar um clima favorável à aprendizagem. (Desde, obviamente, que isso não implique rir a qualquer custo ou à custa de alguém que não está partilhando dessa regulação coletiva.) E penso que rir da matemática, brincando com seus temas e conceitos, pode ajudar a aprender também, de outra forma:"afinal, de que esses nerds estão rindo?". Se você for mais hábil que eu em contar piadas, aí está uma ótima seleção de piadas matemáticas, feita pelo colega Apolo Chalababa, com base no livro de Ivan Baroni:




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