Uma das categorias organizadoras do conteúdo do Matemática pra quem? é Pra poetas. Penso que isso merece alguns comentários.
O primeiro comentário é que essa categoria é uma releitura muito pessoal do nome de uma das série de vídeos do Marcelo Gleiser no Youtube, Física para poetas, um curso que explora o desenvolvimento das teorias da física e da astronomia através dos tempos, começando com mitos de criação de culturas ancestrais e a filosofia da Grécia Antiga até as teorias atuais da cosmologia e da física quântica, fazendo pontes entre ciência, filosofia e religião.
No vídeo de abertura do curso, o Marcelo Gleiser explica que a ideia é abordar todos esses assuntos de forma acessível e diz assim: "não vai ter matemática, por isso que se chama Física pra poetas". Claro que, com isso, o Marcelo quer dizer que não vai abordar as complicadas equações das teorias da física moderna, mas que vai trazer os conceitos e interpretações delas decorrentes. E esses conceitos - belíssimos, que falam sobre a vida, sobre a natureza - têm potencial pra agradar aos sensíveis, aos que tem alma de poeta.
Mas o fato de que a matemática seja contraposta à sensibilidade faz pensar, não?
A matemática também é cheia de beleza e de conexões com a arte, com a filosofia, com as ciências... Essa beleza e essas conexões merecem ser apreciadas mesmo por aqueles que não têm interesse em enfrentar seu lado mais "árido" - a linguagem simbólica e algébrica, a tecnicidade das argumentações, os limites precisos das definições, o altíssimo grau de abstração a que ela pode se elevar... Não que a "aridez" não tenha sua própria beleza; para alguns, ela só aumenta a fruição estética. Um matemático profissional é como um alpinista que enfrenta as maiores dificuldades pela graça de chegar ao topo e apreciar a paisagem, imbuído da emoção da superação.
Nem todos escalam o Everest, mas quase todos são capazes de compreender e partilhar da emoção do alpinista que o faz. Por outro lado, muitos se arriscam em pequenas montanhas e experimentam a felicidade nos seus próprios termos.
Por que não com a Matemática? A Matemática é cheia de oportunidades - grandes e pequenas montanhas - pra quem tem alma de poeta. Desejo que, aqui, você encontre alguma montanha matemática para chamar de sua. :)
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