"O homem que calculava" [1], publicado pela primeira vez em 1938, é de autoria de Malba Tahan, heterônimo de Júlio César de Mello e Souza (1895 - 1974). O livro, que costuma ser enquadrado na categoria de "literatura infanto-juvenil", fez grande sucesso quando de seu lançamento e até hoje continua sendo apreciado e utilizado como paradidático em muitas escolas. O exemplar que eu tenho, por exemplo, é de 2004 e trata-se (pasmem!) da 65ª edição.
O enredo do livro é constituído pelas aventuras e proezas de Beremiz Samir, que usa a matemática para resolver grande variedade de problemas práticos e intrigantes que as demais personagens enfrentam em seu dia a dia na antiga Arábia. O vídeo da Tatiana Feltrin sobre "O homem que calculava" é muito instrutivo e faz um bom resumo da obra, esclarecendo, inclusive, a interessante diferença entre um pseudônimo e um heterônimo. Dessa forma, e considerando que o livro é mesmo muito conhecido, não vou me alongar em um resumo.
A questão que gostaria de abordar aqui, que talvez ocorra a muitas pessoas é a seguinte. Infelizmente, a matemática não é, de partida, um assunto muito cativante para a maior parte das pessoas... Como, então, Malba Tahan fez de um livro de difusão da matemática um sucesso tão estrondoso?
Em primeiro lugar, é importante questionar a premissa de que "a matemática não é um assunto muito cativante para a maior parte das pessoas". O que os estudos indicam é que a matemática escolar, de fato, gera sentimentos bastante negativos para boa parte das pessoas. [2] Mas, hoje em dia, com o advento das redes sociais, não são poucos os problemas matemáticos que viralizam... Isso nos dá uma pista - corroborada pelos estudos de muitos pesquisadores [3] - de que todas as pessoas têm "uma mente matemática", embora possam não gostar da matemática que vivenciam na escola, que frequentemente se torna uma repetição de métodos e regras que parecem não se conectar com a realidade.
Malba Tahan tira a matemática de dentro da sala de aula, faz dela uma maravilhosa ferramenta para resolver problemas que fazem sentido para as personagens do livro e que são muito coerentes com o contexto da narrativa. Falando de forma mais técnica, Malba Tahan é muito hábil em contextualizar a matemática dentro da história contada.
É claro que não podemos desprezar a habilidade do autor, verdadeiro mestre na arte de contar histórias. Bem como não podemos ignorar que contar, ouvir e ler histórias é algo que faz parte de todas as culturas humanas, com ou sem língua escrita. E cada um capítulos de "O homem que calculava" configura um pequeno conto, com características de fábula, contendo sempre um ensinamento moral ao final - algo muito popular.
No vídeo a seguir, além de explorar as questões aqui debatidas, tento dar um gostinho do livro, para estimular você a ler ou reler! :)
Referências (além dos hiperlinks espalhados no texto):
[1] Tahan, Malba. O homem que calculava. 65ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2004.
[2] Devine, A., Hill, F., Carey, E., & Szűcs, D. (2018). Cognitive and emotional math problems largely dissociate: Prevalence of developmental dyscalculia and mathematics anxiety. Journal of Educational Psychology, 110 (3), 431. https://doi.org/10.1037/edu00 00222
[3] Devlin, Keith. O gene da matemática. Trad. Sérgio Morais Rego. 2ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2005.
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